sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Como a saúde pública pode resolver seu problema? Simples: Morra e seja uma problema a menos!

Olá caros e, por ora, poucos (se existentes!) leitores.
Há muito tenho vontade de montar um blog para escrever sobre os mais diversos assuntos. Mantenho na rede o blog da Paróquia de São Benedito de Pedreiras, que embora seja de grande satisfação seu número de visitantes, é um blog de um assunto específico. Animado pelo 1° Encontro de Blogueiros de Pedreiras, resolvi finalmente montar este blog para saciar minha vontade de escrever, de dar minha opinião.

E meu primeiro texto é sobre uma triste realidade que não só vejo, mas como diabético, sinto: o descaso para com a saúde pública não só em Pedreiras, mas no Maranhão. Minhas difilculdades são as mesmas de vários diabéticos de nossa cidade (e eles são bem mais numerosos que pensamos), porém, infelizmente, minha sorte - ou bênção, como prefiro chamar - não é a mesma de tantos outros.

Descobri ser diabético tipo 1 - aquele que tem que tomar insulina diariamente - em maio de 2010. Tinha 21 anos apenas. Descobrir ter uma doença incurável e com complicações terríveis (vide amputação, problemas cardíacos, renais, etc...) tão jovem, foi como uma grande pedra jogada na minha cabeça: senti-me tonto, perdido, abatido, chorei... Fui amparado, porém, pela informação: com tratamento e controle é possível viver uma vida normal, SEM complicações.

Aplicando insulina: não é tão horrível quanto parece...
Aplicar insulina pela primeira vez é uma experiência interessante: na cabeça de quem vê, aquele "pobre coitado" está se martirizando, empurrando aquela "terrível ponta de ferro entranhas adentro". Eu também pensava assim. Recorri a todos os métodos "caseiros" possíveis pra escapar da insulina: tomei chás, fiz dieta, tomava suco de cebola em jejum (arghh!), mas a glicemia não baixava, ficava beirando os 300 ou 400 - o normal é até 99mg/dl em jejum. Naquela manhã de 1° de julho de 2010 (olha o tempo entre o diagnóstico e a primeira insulina, que absurdo de minha parte! rs) "chutei o pau da barraca" e resolvi aplicar o tal do hormônio vital. E eis que.... NÃO DOEU. Aquela foi a primeira de mais de milhares que já apliquei. Não é sempre que não dói, mas quando dói, é uma picada insignificante, não dá nem pra dizer "ai!". A partir daí foi só ser fiel aos horários e doses. Em menos de uma semana meus níveis glicêmicos estavam normais e, graças a Deus, assim eles permanecem até hoje.

O controle é possível e sou testemunha viva de como a qualidade de vida do diabético em nada muda. Porém, o que poderia ser só uma chatice na vida acaba se trasformando em um sério problema quando nos deparamos com a manutenção do tratamento. Tudo é muito caro: insulina, seringas, tiras reagente (ou como chamamos, as "fitinhas") necessárias para medir a glicemia - algo que o diabético deve sempre fazer, e outros insumos que são incluídos nesse pacote. Pra se ter uma ideia (sem acento, segundo o novo acordo ortográfico, rs) um vidrinho com 10ml de insulina NPH (a mais barata, e de controle menos complexo) custa em média R$ 50,00; uma seringa para aplicação da insulina (ela não entra por osmose, como já esclarecido) custa R$ 2,50 em Pedreiras ou R$ 1,40 em Teresina. Diante destes preços, o diabético encontra alívio e conforto na Lei Federal 11.347 que garante a gratuidade dos insumos necessários ao tratamento e à medição dos níveis glicêmicos em pessoas com diabetes, sejam elas do tipo 1, tipo 2 ou gestacional.

Como, graças ao bom Deus que prefere os pobres, não tenho nada nos bolsos, fui atrás desses direitos e o que encontrei?

Constatemente vemos na TV e nos jornais denúncias sobre o descaso na saúde pública e etc e tal e tal e etc... Nunca, porém, imaginamos que um dia nós mesmos seríamos vítimas desse descaso.

O endocrinologista que consultei (e que tive que pagar R$ 150,00 por uma consulta em Teresina, pois não consegui consulta com um endocrinologista do SUS no Maranhão e os do Piauí não consultam maranhenses) me indicou tratamento com dois tipos de insulina, Regular e Lantus. Ao procurar a saúde pública da minha (nem tão, neste caso) querida Pedreiras, soube que aqui só se disponibiliza um tipo de insulina: a NPH. Diante do descaso, o endocrinologista me passou um "tratamento alternativo" o qual deveria o usar "o que tinha". Graças a Deus (sempre O agradeço!) esse "quebra-galho" tem dado certo até agora.

A Secretaria de Saúde de Pedreiras, essa que mal dá a insulina, também disponibiliza algumas seringas. Sobre estas seringas, vejamos: elas são descartáveis, ou seja, usa e joga fora. Quando vou buscar insulina, e eles me dão o suficiente pra dois meses, se eu pedir (enfoque no "SE"), eles me fornecem um número variável de seringas: entre 12 a 15. Isso mesmo, teria que reutilizar várias vezes a seringa descartável para poder aplicar a insulina "quebra-galho", sem falar que as seringas fornecidas são enormes, daquelas que assustam pelo tamanho da agulha, mais um erro, pois o tamanho da agulha deve ser propocional ao Índice de Massa Corpórea do paciente.

À esquerda, a seringa disponibilizada (em quantidade limitada) pela prfeitura de Pedreiras. À diretira, a seringa recomendada à minha massa corpórea.


Alí, aos trancos e barrancos então, posso aplicar minha insulinazinha... E o controle? Ah, o controle...

O glicosímetro e o bichinho virtual. Tá, não são tãããão parecidos....
A secretaria não dispõe de glicosímetros (os aparelhos de medição, parecidos com aqueles bichinhos virtuais de antigamente, lembra?), muito menos das fitas que servem para recolher o sangue e pôr no glicosímetro (e cuja caixa custa R$ 159,90, preço de anúncio no facebook). Ao invés disso, dispõe de uma exame de sangue: você marca a hora do exame, faz a coleta de sangue, e dalí a 10 dias (segundo umas das "simpáticas" funcionárias de um famoso posto de saúde que fica ao lado da rodoviária) você recebe o resultado. Só isso: 10 DIAS! Quem é do "ramo" sabe que os índices glicêmicos se alteram constatemente: o índice de agora não é o mesmo de 10 minutos atrás. Imagine o de 10 dias atrás!!! Que controle pode ser feito com isso?

O secretário de Saúde (que dizem, inclusive, ser pré-candidato a prefeito de Pedreiras) então deu a solução: procure na Secretaria de Estado da Saúde! Pensei: "Tô feito, tia Roseana Sarney cuida bem da saúde do Maranhão" (isso foi ironia pessoal, não vão pensar que defendo Sarney), e fui eu rumo à capital, à "Atenas Maranhense"... Chegando lá, todo serelepe, levo mais um não na cara: "Isso não é nossa responsabilidade, isso é responsabilidade da prefeitura", disse a "simpática" (vocês já notaram como o pessoal que trabalha na saúde costuma ser antipático e grosseiro?) senhora que me atendeu.

Imagem meramente ilustrativa

Me encontrei então nessa situação: fazendo um tratamento quebra-galho e sem condições de sequer saber se ele estava dando certo, de ter algum controle. Porém, lembra da sorte que eu disse ter?

Eis que em um lugar bastante improvável, o orkut (que Deus o tenha, pois foi assassinado pelo Facebook), conheci várias pessoas com a mesma doença que eu e também várias pessoas dispostas a ajudar pessoas como eu. Hoje, ainda faço o tratamento "quebra-galho" com insulina NPH dada pela prefeitura de Pedreiras (em um processo onde tenho que ouvir conselhos de uma enfermeira que atende como médica e que visivelmente entende menos de diabetes do que eu) e aplico esta insulina com seringas que me foram mandadas de São Paulo. Também acompanho minha glicemia através de fitas reagentes que uma grande amiga me manda de Paranavaí/PR. Estas pessoas não compram isso pra mim. Simplesmente recebem, COM SOBRA, nos postos de saúde de suas cidades.

Isso é o que mais revolta: não é um problema nacional, é um problema local, de incompetência na gestão dos recursos da saúde.

Se tudo isso é um problema de um diabético, imagina quantas outras pessoas com quantas outras doenças passam por estes mesmos problemas com a saúde de nossa cidade? E é coisa que não é de agora, então nada de uma oposição hipócrita vir dizer que a culpa é só da atual gestão...

Esse foi o meu primeiro texto, espero que apesar dos enormes e constantes apostos, acompanhem as opiniões - e como neste caso desabafo - deste blogueiro.

Abraços!

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