domingo, 8 de janeiro de 2012

Não existem alunos burros, existem professores despreparados.

Olá leitores. Alguém poderia me dar um dinheirinho pelo dia de Santos Reis? Porque a coisa aqui tá apertada.

É uma vergonha pra mim estar com esse tanto de postagem já publicada e, sendo professor formado, ainda não ter falado sobre educação aqui. Unindo uma consciência da importância desta profissão a um certo corporativismo é difícil pra mim falar mal de professor, mas é aquilo: vou bater, mas depois passar a mão. Me entendam...

Hoje é cada vez mais difícil ser professor. Uma caminhada por uma escola revela o desafio que se tem pela frente: os jovens estão cada vez mais "aéreos", não se interessam pelos estudos, fazem do colégio uma zona de diversão e namoro e desrespeitam cada vez mais a figura do educador. Culpa de quem? Do professor!!!

Calma professores, não joguem pedras em mim!

Eu tinha até pouco tempo atrás uma visão de que o problema estava em vários outros fatores, principalmente da criação dos pais. E ainda acho que isso é um agravante. Mas pense bem: será que a educação em casa mudou tanto assim nos últimos tempos? Os pais estão tão mais irresponsáveis do que antes? Provavelmente não.
Eu no estágio fazendo pose pra tirar a foto do relatório

Aí chega a hora de chegar ao estágio e que realidade encontro? O problema está nos educadores também. Por culpa deles e por culpa do sistema educacional que temos hoje. Tudo é muito mecânico, muito sistematizado e embora o sistema seja fundamental para se manter a ordem, ele deve ser trabalhado junto com outras dimensões no ensino.
Ele pode ser um preguiçoso, fato, mas será que a culpa é só dele?

Vivemos atualmente em uma sociedade extramente diversa, dinâmica, com informações das mais variadas fontes e vindas pelos mais variados meios. A estaticidade do professor à frente da sala de aula é chata, massante, um verdadeiro purgante para quem tem que ficar horas e horas assintindo aulas.

Vou contar-lhes a experiência que tive em meu estágio em uma famosa escola de Pedreiras e quem tem um dos melhores ensinos da região.

Toda escola tem aquela "sala temida": os professores suam quando ouvem falar nela, o coração dispara, um frio sobe pela espinha só de pensar em encarar aqueles alunos, animais ferozes prontos a arracar sua carne e espalhá-la pelo corredor. Assim era o 1° Ano A (ou era B?) desta escola. Quando saí pela primeira vez rumo a esta cabalística classe ouvi um "boa sorte" de um professor que estava sentado comigo, do outro lado a pegunta de um outro professor: "Vai pro 1° ano A agora é? Xiiiiii". Confesso que pensei: "P%$a Mer%#@". Cheguei na sala e ela era o retrato do inferno: superlotada, com um monte de pestes, um barulho pior do que a quinta do real e eu lá com a nobre tarefa de ensinar geografia.

Depois de uns dois ou três gritos, consegui chamar a atenção daquelas criaturas flamejantes e fui ministrando minha aula. Que decepção! Saí dalí consternado, um ar de tristeza pelo que vi, um sorriso falso pra que não notassem o que eu tinha percebido: A CULPA ERA DO PROFESSOR.

Conheci uma turma ávida por aprender, crianças inteligentes, com grande potencial, mas que não são bem trabalhadas. Minha tristeza veio do fato de que estamos andando pelo caminho errado da educação. Estamos culpando as crianças e os jovens pelo problema do ensino, quando na verdade não temos professores preparados para ensinar. Se temos um aluno engraçadinho, usemos a gracinha dele pra ensinar. Se temos um aluno que gosta de falar demais, pois transformemos sua fala em conhecimento. Se temos aqueles assanhadinhos que só pensam no que está no meio de suas pernas, que tal transformamos isto em educação?
É difícil de acreditar, mas eles querem sim aprender...

Minha tristeza pela constação que tive só foi ultrapassada pela maravilhosa experiência que tive com a tal "sala do terror", e com as outras também. Fui mais dinâmico, criativo e simpático que pude, mesmo nas horas em que me dava vontade de arrebentar um pedaço de cana (a aula era sobre ciclos econômicos e eu levei um pedaço de cana) na cabeça de algum deles. Adorei a profissão e gostaria de ser professor, apesar da vida estar me levando para outros caminhos atualmente, mas são muitos os probelmas a serem enfrentados.

Um deles é o sistema, como disse mais acima. Nessa experiência, vi um professor que tinha projetos bacanas, que ao meu ver, seria garantia de crescimento no saber daqueles jovens. Mas o projeto não poderia ir adiante por não encaixava no programa da escola, e é aí que começo a passar a mão no tapa que dei nos professores: a educação brasileira atualmente tolhe o educador, não lhe dá liberdade pra ensinar, não lhe dá formação necessária pra isso, não capacita, não motiva profissionalmente e financeiramente. Apenas joga um bando de Parâmetros Curriculares que são belos no texto, mas vazios em suas ferramentas.
Acordando para se dar conta de seu papel e sendo valorizados pela sociedade esse ser tem a profissão mais louvável da terra.

Mas eu ainda acredito no professor. Ainda acho a mais bela das profissões. Porém, se não for realizado um trabalho de mudança de atitute, se não for lançado um novo olhar sobre os jovens, se não houver uma valorização do profissional, seja pelos governos, seja pelos próprios professores, vamos ficar eternamente no fracasso, colocando a culpa em uma corja de adolescentes que apesar de todo conhecimento que expressam ou de tudo de adulto que faz, facilmente se revelam apenas um bando de crianças que precisam de um bom professor.

Até a proxima!

3 comentários:

  1. concordo contigo!!!
    tem muitos q só enrrolam...
    por se enquadrar no SISTEMA ou
    só por enrrolar mesmo....
    ...conheço um monte!!!!

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  2. Parabéns! Carlos Ricardo, concordo plenamente com você, precisamos de professores bons, para mudar essa realidade e quebrar paradigmas que vem atrapalhando a educação de muitos jovens maravilhosos, que estão perdendo por conta de um mau professor que não sabem trabalhar uma simples pedra preciosa, que poderia ajudar muitos outros a brilhar no futuro e por isso temos muitos jovens perdido ou melhor, desorientados. Tive a mesma experiência e posso afirmar, que um dos maires problemas em sala de aula, são professores despreparados.

    Evaldo Monteiro

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  3. Olá Ricardo. Parabéns pelo texto. Achei muito bom, mas ao mesmo tempo me assusta o seu conteúdo, já que sou professor há algum tempo. Sua tese me assusta pois tenho medo de me enquadrar como tal professor despreparado e diante disso me esforço para não o ser, mas não sei quais minhas limitações nesse sentido.
    Durante minha graduação, passava um bom tempo analisando onde os professores pecavam para assim, localizar como poderia me desvencilhar da limitação imposta por tais professores, que muitas vezes tentavam atrasar a vida do alunado pensando que aquele aluno que estava em formação logo logo viria ser parte da concorrência no mercado de trabalho, isso fez com que parte da minha formação fosse feita a partir de grupos de estudos e autonomamente. Oras, isso a primeira vista parece ser bom, mas numa análise mais profunda pode mostrar que o professor que atua na educação está pensando apenas como componente do mercado de trabalho. E de onde vem isso? Creio que vem de um professor formado a partir de uma mentalidade que secundariza a profissão. Muita gente está caindo nessa profissão porque não consegue outra coisa, e isso é tido como normal, quando na verdade é uma anomalia, pois o professor tem uma grande responsabilidade na mão. Oras, quantos dos meus companheiros não começaram a dar aula pois precisavam de dinheiro ou então só dão aula pois se formaram em tal curso, que só fizeram pois foi o único que conseguiram passar.
    Outra coisa que me desperta a curiosidade é que além desse despreparo, há também a falta de incentivo ao professor. Nesse caso o professor é visto como um mero reprodutor de conhecimento, e por exemplo, não o víncula como também sendo pesquisador. Como exemplos vemos os professores da educação básica que não efetivam pesquisas por não serem preparados (o que mostra a falta de preparação na sua formação) e quando querem pesquisar, não recebem incentivos.
    Também há o desprezo com as disciplinas pedagógicas ou ainda uma estigmatização de algumas dessas, como por exemplo a disciplina de didática, que muitos professores a tomam como um receituário das atitudes dos professores em sala de aula, quando isso é uma mentira, já que ela analisa a prática docente em diversas situações e não apenas padroniza essa prática.
    Acho que esse texto nos leva a pensar que não é somente o professor enrolão que está nessa atividade, mas que antecede, muitas vezes, levando a refletir sobre a própria formação deste professor.

    Abraços professor Ricardo.

    Sávio Rodrigues

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